5.7.08

A vida é engraçada...

A vida é engraçada... engraçada não, essa não é a palavra certa. Ela é irônica. Incrivelmente irônica. Há alguns meses, só a idéia de dar uma caminhada mais rápida já me dava náuseas, quiçá pensar em correr. Nunca imaginei que um dia eu poderia dar alguns passos mais rápidos do que de uma caminhada até a cozinha. Porém agora, depois de correr 1 hora, por quase 7km tive uma das melhores experiências da minha vida. Correr por si só é uma das melhores coisas para se manter saudável, mas ela tem um outro ingrediente excelente para a saúde mental, Temos alguns minutos sozinhos com nós mesmo, só nós, nossas músicas e nossos pensamentos, e nessas horas os pensamentos filosóficos aparecem.

Partindo do princípio, uma das, senão a maior, dúvida da humanidade é o sentido da vida. Qual o sentido da vida? Por que acordamos todos os dias e simplesmente vivemos? Partindo do ponto que eu sou ateu, a minha vida é isso que vivo, depois disso acabou, simplesmente desligamos. E aí se complica ainda mais, qual o sentido da vida aqui na Terra? Se não há mais nada depois desse “martírio”, qual o sentido de viver algumas décadas e depois desaparecer?

Procuramos um sentido tão complexo para tudo, que não vemos o que há de mais belo: a simplicidade. Vivemos para sentir. Para sentir que estamos vivos. Essa deveria ser a sensação que deveria nos guiar pela vida, e não um pensamento de que algo transcendental deveria nos dizer o motivo de nossa existência. A filosofia trata de nos ajudar a viver, sabendo que nosso tempo na Terra é finito, e o tempo corre sem parar, sem chance de volta.
Por isso só temos o presente. O passado não existe mais, e o futuro ainda virá a existir, mas ainda assim vivemos a maior parte do tempo vivendo entre saudades e esperanças. Não nos damos contas que o único momento em que estamos vivos é o agora, e não amamos a vida como ela deveria ser amada.

Esperamos algo tão grande do futuro e vivemos tão frustrados com o que não fizemos ou não tivemos, que as maravilhas da vida se passam, a toda hora, sem a chance de serem re-vividas. O sentido da vida é sentir alguma coisa que nos faça parar e pensar “Que bom que estou aqui para sentir isso”. E não falo que essa sensação vem só com desejos megalomaníacos, mas com as coisas mais simples da vida. Lembro-me quando eu estava num trabalho num turno da madrugada, havia alguns meses que não saia mais com meus amigos, e isso me deixava extremamente deprimido, um dia não agüentei, pedi as contas e joguei tudo pro alto. Nesse mesmo dia saí com meus amigos, fui a uma lanchonete fuleira comer um lanche. Foi um dos dias mais felizes da minha vida, simplesmente por que me sentia vivo, como há muito não me sentia.

Mas lembrando aqui, algumas coisas que fazem eu me sentir vivo: Quando consigo correr 1 minuto a mais do que no dia anterior, quando estou com sede e olho pro lado e tem um copo d´agua, quando o meu rádio toca a música que eu queria ouvir aleatoriamente, quando viajo 400km para ver uma amiga especial, quando converso com alguém que gosto, quando beijo a menina que queria beijar, quando aprendo a fazer um acorde novo na guitarra, etc. Quase toda hora, vivemos pequenas coisas, pequenos sentimentos, que nem damos valor, porque esperamos que a vida seja algo realmente grande, mas que somadas nos fazem sentir vivos.

Isso é incrível, é tudo tão simples. Esperamos que uma roupa nova de marca, um carro, um computador, um outro lugar ou que outras pessoas venham nos suprir e mostrar o sentido da vida. Quando na verdade tudo que nos importa esta ao nosso alcance, mas olhamos tão para cima, que não vemos o nosso lado. Pensando assim, viver é sentir.

Vou pensar num outro lado, o lado profissional. Passamos no mínimo 1/3 da nossa vida adulta nos nossos empregos e outros 1/3 da vida no mínimo estudando para ter esse emprego, é muito tempo, tirando as nossas horas dormidas, é metade da nossa vida. Metade da nossa vida... quando se pensa assim, da para se ter uma idéia do tamanho da importância disso no sentido da vida, no sentir, no viver.
Procurando alguma segurança, vamos atrás de um bom emprego, com um bom salário, que nos traga um futuro promissor. Um futuro promissor... quando esse futuro vai chegar? O que mais vejo são pessoas acordando e indo pro seu emprego, como zumbis desprovidos de sentimento, realizar suas tarefas, voltar para casa, receber seu salário, comparar suas coisas, preencher seu vazio e esperar alguma coisa atravessar o céu, e dizer “Esse é o sentido da vida, agora sua vida tem sentido”. Não quero isso para mim. Confesso que faço parte dessa turma de zumbis, mas não quero isso, não para sempre, quero me sentir vivo até quando trabalho, assim como me sinto o resto do dia.

Quero sentir. Acordar e pensar “Que bom que estou vivo”. Penso que a vida é como uma paquera. As vezes temos medo de meter a cara e falar com uma garota. Temos medos de falar besteira e perdê-la e não fazemos nada. No final, além de não termos a garota, ainda temos aquelas frustração de não ter feito nada, e como já disse, o percurso do tempo não para. Agora gastaremos mais um pouco do nosso precioso presente para pensar no passado e dizer que no futuro não faremos isso. Temos tanto medo de errar, que não percebemos que somos frutos dos nossos erros. Não só dos nossos erros, mas das nossas experiências em geral, mas diria que dos erros principalmente, pois eles nos marcam mais e nos fazem aprender, a crescer e nos tornarmos mais fortes.

Nos queixamos tanto que “Se eu soubesse, não teria errado” e ao mesmo tempo criticamos “as pessoas vazias que tem tudo na mão e mesmo assim são umas idiotas”. Na vida é tudo tão simples, que os erros nos fazem sentir, nos fazem viver, viver nos transforma e no fim nos tornamos quem gostamos de ser. Se não tivéssemos errado, aprendido, sofrido, hoje seriamos aquelas pessoas que consideramos vazias. As vezes, o que achamos que foi nosso pior momento, foi a melhor coisa que nos aconteceu.

Eu quero errar, quero sofrer, quero aprender, quero sentir, quero viver. Não quero chegar nas vésperas da minha morte, olhar para trás e pensar “Era tudo tão simples, e eu simplesmente não vivi”. Quero me sentir tão vivo quanto agora que escrevo esse texto, quero escrever vários textos, quero conversar, beijar, sentir, quero ter milhões de sensações. Quero chegar no meu leito de morte e que todos digam “Esse cara viveu, tomou inúmeros tombos, mas viveu”. Não quero pensar que construí meu patrimônio vendendo seguros, ou advogando, ou algo do tipo. Há pessoas que gostam, e fico feliz que essas pessoas se sentiam vivas em fazer isso, mas eu não. Eu quero mais. Quero marcar alguém. Fazer as pessoas pensarem, refletirem, sentirem, viverem. Satisfazer-me em estar trabalhando, em acordar e ir feliz trabalhar, porque sei que lá vou ter sensações únicas e me sentirei vivo.
No fim, o grande sentido da vida é viver.


-Dudu-

2 comentários:

Biel Macedo disse...

Se foi sua intenção, fazer refletir, felicite-se... hoje vou dormir pensando nisso com o coração.
Obrigado Dudu.

Leonardo Moscardini disse...

Parece simples né?! Viver = Agir. Mas para isso é preciso libertar-se da força opressiva da imobilidade. Isso é extremamente difícil atualmente.