Sala de aula. Grande e representativo ponto de interrogação no quadro.
Algumas tentativas lúdicas de explicar como sinalizar uma questão.
Não tão óbvio pros pequenos, de pouco mais de três verões.
Pequeno e intrigado, Pedro pergunta a razão de eu ter desenhado um grande S dançando, em cima de uma bola.
É, Pedro.
Então.
Uma pergunta, assim como essa que você fez, agora.
Mas Pedro, eu queria te dizer que esse S fugido, vai ser você, um dia. Muitos dias.
Queria te contar que ando cheia desses Ss por dentro, eles são uma dança só, entre saltos, que eu mando parar, mas são surdos, e além disso nem um pouco coreografados, sabe Pedro, tem sido péssimo.
Mas também não é tão ruim, desculpa. Não vá se assustar, disso tudo também já saiu muita coisa boa, dessas interrogações nasceram invenções, revoluções, mudanças, e quem sabe um dia pra mim elas sirvam pra mais do que escrever um texto, um texto, um texto.
Queria te contar das ciladas que me enfiei por causa delas, que ontem a noite foi dura e que eu acordei mais ainda, e que elas se multiplicam, lembra daquele filme dos Gremlins? Com certeza não, mas enfim, resumindo, eram bichinhos que quando eram mortos, não morriam, se multiplicavam.
É assim que funcionam, essas bolas que pulam, pulam, pulam, vão pular em você como quando a gente afoga em piscina de bolinas (isso você conhece), mas nesse caso as bolinhas ficam pretas e se mexem sozinhas e crescem e sufocam e pulam, infernalmente pulando.
Queria te dizer da tristeza de te mostrá-las assim tão cedo, mais cedo ou mais tarde você conheceria, mas não queria ser eu, sabe, esse fardo, só que me interessei muito por essa sua nova visão interrogativa, queria mostrar pro mundo, te levar aos congressos de doutores em letras, mostrar pra esses seres que de livre docência tem só o título, pra eventos internacionais sobre qualquer coisa assim e assado.
Dizer que tudo, e o mundo silenciaria, Pedro, você diria que tudo isso não passa de um S desatinado, que cansou do plural, viu o ponto, também não muito feliz sendo final, persuadiu-o, resolveram ser curva e bola, só.
Dois dois, nenhum: nem plural, nem final.
- Gabi Romeiro -
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário