3.8.10

Sem título 1

A queda de um ídolo que foi opressor não pode ser rápida, e nem com medidas extremas e desesperadas. Nada de proibição. Primeiro ele toma o golpe da vergonha, depois volta querendo chocar, quando algo choca, logo depois vem a banalidade, as pessoas se acostumando ao que era chocante. Logo, o que os adoradores desse ídolo tanto idolatravam, que era o medo e respeito que colocavam em quem não seguia seu ídolo tolo, cai por chão. E todo o significado do símbolo se perde em camisetas de design batido.

22.7.10

O estouro dos Gnus ensandecidos.

Gosto de caminhar e observar o trânsito. 10 minutos de caminhada bastam pra perceber o delicioso, e nada coincidente, resumo da sociedade:

Milhares de Leis que ninguém sabe, e as que se sabe, ninguém respeita. Nem mesmo quando elas existem estritamente para proteger a própria pessoa que esta atrás do volante e mais ninguém. Nada como chamar de acidente quando uma pessoa bebada, e sem cinto, faz um contorno proíbido e mata, ou morre. Prato cheio pra estampar jornalecos e um especial de meia página, quem sabe uma inteira, escrita por um abutre disfarçado de jornalista.

Se uma família inteira se vai, ou então quatro ou cinco adolescente de classe média morrem, aí sim temos uma tragédia perfeita, com toda a dramaticidade que a acompanha. Vale também xingar o “porco” do guarda de trânsito que te multou por falta de cinto. É aquela tal máfia das indústria das multas, umas das coisas do “por isso que o Brasil não vai pra frente”.

A facilidade de se trocar de personalidade que o trânsito nos trouxe é fabulosa. Tendo o dinheiro necessário, você vai de um sedan sóbrio, lindo, gigantesco que impõe todo respeito que você merece pelo seu cargo atual, ou sua condição financeira, a um sport bem de vida e jovial - um bon vivan que adora os pequenos prazeres da vida. Como o vento nos cabelos a 160km/h.
Além de uma gigantesca camionete que te permite ignorar carros menores, sinais, convenções e, até algumas calçadas, que pouco tem importância pra um homem de tal tamanho e tração.
É maravilhoso se vestir com o preço de algo. O design, a cavalaria, as cores. Um aviso pros outros de quem você é, e de quanto pagou por isso.

A buzina é voz de fábrica gritando pros outros “ ei você é um obstáculo a minha pressa”. Pressa essa, que sempre permite passar na frente de outros, estacionar onde não se pode ou fazer qualquer bobeirinha sem importância por aí. Mas ei, você está com pressa, isso já desculpa quase todos os erros da humanidade, por que seria diferente pra uma simples cortada? Você tem todo o direito. Assim como o direito de espernear feito uma criança mimada, gritar incontáveis palavrões por segundo e o usar do clássico dedo do meio pra fora da janela, tudo porque alguém pensou que a pressa dele fosse mais importante que a sua. Talvez se seu carro fosse maior ele te respeitaria.

E o lado sábio que a experiência no trânsito nos trás? Isso sim é de se admirar. Adoro ver como os motoristas profissionais já descobriram que eles sabem demais. Já sacaram que as leis devem ser aplicadas a semi-adolescentes que acabaram de sair da auto-escola. As leis não servem pra quem tem anos de direção, afinal, nunca vi acidente causado por quem dirige há alguns anos. Por isso motoristas de taxi, ônibus, moto-boys e outros profissionais são motoristas tão bons e aproveitam bem melhor o tempo no trânsito, usando espaços proibidos que os motoristas menos experientes ainda não sabem usar, ou andar numa velocidade bem acima da permitida que só quem domina a direção consegue conceber, ou mesmo usando algumas regras só quando se faz necessário, como frear alguns metros do radar, ou simplesmente molhar a mão do guarda que te pegou a 170km/h numa via onde mal se pode andar a 80 mantendo qualquer segurança.

E também temos as valiosas lições que aprendemos quando as pessoas mais velhas contam orgulhosas em suas histórias. Quebras sucessivas de records em viagens. “Fiz Franca - São Paulo em três horas uma vez, e ainda parei pra comer. Boa época aquela que não tinha radares” - Diz o tio pro sobrinho que olha admirado.
Os olhos dele brilham, mal pode esperar pra comprar sua liberdade. O outro nome do carro. Com ele, a adolescência se vai e a fase adulta chega. E não existe vida social sem ele. Nem sei se existe uma pessoa em sí sem ele. Nada melhor que curtir a época da faculdade sem nem saber como se chegou em casa de tão bebado. Uma noite perfeita é aquela em que não se lembra de nada e que o carro chegou inteiro.

O clima do ar condicionado é sempre agradável e controlável. Viver numa ilha isolada do mundo é demais. Metal e vidro protegem o seu interior de coisas desagradáveis, como o cheiro de um lixão, corrego ou fumaça de queimadas. Além disso, o vidro fumê esconde quando não se quer encarar algo que incomoda. Como crianças e adultos jogados por aí e outras coisas terríveis de hoje em dia. O governo tinha que dar um jeito nesse pessoal. É um martírio parar nos semáforos hoje em dia, haja paciência.
Nada melhor que chegar em casa e pensar nos velhos tempos, quando as cidades eram mais humanas e as pessoas caminhavam pela rua ou ficavam nas calçadas conversando. Interessante que isso ainda acontece, mas é difícil de se ver, principalmente passando a 60km/h cortando por um bairro residencial. Fica tudo um pouco embaçado, é difícil mesmo perceber. Mas a pressa é grande.

Aliás, o que se percebe dentro do carro é que o asfalto não esta bom o suficiente, ou que as vias não são largas, ou que aquele retorno é muito longe ou o estacionamento muito caro. Um carro não usa calçada, pra que se importar com a conservação dela? Um carro tem faróis, talvez até de xenon, pra que se importar se a rua tem iluminação? Meu carro da a liberdade plena de ir e vir, pra onde se quiser e quando quiser, pra que alguém se importaria com transporte público decente?
Só se acha um absurdo pagar pedágio, afinal, o IPVA é pra isso. Maldito governo. Cortem gastos e invistam onde se é preciso pro meu carro rodar suave, sem pular a música que está tocando no meu som.

E que senhor som. Tem um zilhão de watts, trocentas caixas de nomes impronunciáveis, e que a maioria mesmo nem sabe o que significa, mas são bem caras. O chão literalmente treme quando toca a última música da moda, e se as outras pessoas não gostam desse tipo de música? Elas não tem o direito de falar nada, ou compram um som mais potente, ou que peguem seus carros e saiam de perto. Cada um com sua liberdade. Pois o interior do veículo é uma ilha particular no meio do absurdo que é a falta de individualidade da sociedade atual. Dentro pode-se liberar o verdadeiro “eu” de qualquer um, mesmo que as ondas sonoras não respeitem os limites de quarteirões.

Fora que a indústria automotiva faz muito bem ao País, da muito emprego. Quanto mais carros se vender, melhor a situação está. Não lembro com clareza, mas tenho quase certeza que se mede a qualidade de vida de um lugar pelo quantidade de carros vendidos. Logo chegaremos ao primeiro mundo. E mesmo que na mesma capa de jornal, a notícia de recordes de vendas de automóveis, dívida a atenção com a notícia de recordes de congestionamento, sem nenhuma previsão de melhora até a hora de um colapso total inevitável, nem vale a pena se preocupar com isso. Temos que apoiar a industria nacional. E se der, financiar um carro por membro da casa, ou trocar aquele velho modelo 2009 pra evitar a desvalorização.

Essa maravilha da tecnologia, que funciona com um motor a combustão, algo inventado há mais de 100 anos. Queimando o que a natureza demorou milhões de anos pra decompor em segundos e soltando no ar a fuligem que dá o tom da nossa época e deixando o som que as cidades emitem, como de um gigante que se dorme profundamente ao longe. A sinfonia da explosão interna. E mesmo que isso esteja transformando o ar em uma coisa quase irrespirável, não vale a pena investir realmente em pesquisa pra coisas novas, pois isso já está aí há mais de 100 anos, gera muito emprego, é a base da econômia. Não se deve mexer com isso, melhor alargar as marginais e construir mais duas pistas. Isso sim vai solucionar quase tudo.

Duas toneladas de aço que sem nenhuma intenção se transformaram na extenção do próprio ser. Uma armadura que permite a pessoa ocupar o verdadeiro espaço que ela sempre quis ocupar. Algo que mostra que quando há, mesmo que fina (se bem que hoje em dia o ideal é blindagem nível 3), uma camada entre o interior e o exterior da pra ser “mais você”. Protegido da pra se fazer coisas que se forem feitas sem armadura, seriam todo tipo de comportamento desaprovado por qualquer um. E provavelmente provocaria muitas trocas de socos. Mas com um carro, se ele for potente, basta correr antes que o olhar de desaprovação de alguém se cruze com o seu.

O carro é a maravilha do século, em pouco mais de 4m² de área, toneladas de aço e design, ele simplifica as relações humanas, a sociedade e o verdadeiro carater geral da maioria atrás do volante, isso em minutos de observação de um cruzamento movimentado. E como geralmente só há uma pessoa por carro, nem é preciso se preocupar em passar vergonha com o olhar do passageiro. Da pra se ser o “eu de verdade” em sua totalidade.

24.1.09

A vida é cruel.

Se você já ouviu falar de Franca, com certeza será por um desses dois motivos. O primeiro é que ela ainda é considerada a capital do calçado, uma cidade inteira movida a base da indústria calçadista. A outra é ela ser também a capital do basquete, algo que orgulha mais os habitantes do que ser movida quase que absolutamente por uma indústria tão suscetível a crises e qualquer mudança no mercado e que foca todos os pensamentos da cidade numa só direção, transformando Franca na capital da falta de opção e falta de cultura. Mas não estamos aqui pra discutir as razões sócio-econômicas de mais uma das crises sofridas pela cidade. O basquete em Franca é mais do que um esporte, é uma religião. Franca é a capital do basquete desde uns trinta anos atrás, de onde saíram a maioria dos grandes jogadores da história do basquete nacional, e onde pessoas que mudaram o basquete no país surgiram. Uma dessas pessoas é o próprio técnico da equipe de Franca, uma vida que se confunde com a história do basquete nacional, uma lenda vida. E se o futebol tem o Felipão e o Vôlei tem o Bernardinho, ambos conhecidos pelas broncas monumentais, e também por estarem vivos até hoje depois de quase terem ataques cardíacos durante os jogos, o basquete tem o Hélio Rubens, cujas broncas são ouvidas mesmo sobre a voz de seis mil pessoas.

Ele é um cara que me faz pensar que realmente existe um estresse bom, é inacreditável que ele não tenha todas as doenças do mundo por ser daquele jeito, mas como o que ele faz é por amor, parece que o estresse só o afeta do jeito bom, incentivando a sempre se superar. É esse tipo de paixão que faz Franca, mesmo sendo um dos únicos times que cobra pelo ingresso, conseguir lotar completamente seu ginásio, o famoso Pedrocão. Hoje é o dia. O evento mais importante da cidade. Na final do estadual, a cidade esta perdendo por dois a um, a série de melhor de cinco. Se perder, deixa a cidade rival ser campeã no templo Francano do basquete, HERESIA! Se ganhar, tem a chance de ser campeã na cidade adversária. Nesse clima fui para o jogo.

É vida ou morte. Uma guerra santa. É o maior evento social que se pode ter na cidade, praticamente a cidade inteira está ali, e se vê todo tipo de pessoa, desde algumas meninas e meninos, entrando na adolescência e que, pelo que parece, só foram ao ginásio para procurar paquera, até quem é marca registrada em todo jogo, sentando sempre no mesmo lugar há décadas. Começa o jogo e o transe é absoluto, com alguns minutos de partida é praticamente impossível não entrar no clima. Seis mil pessoas gritando juntos para apoiar ou vaiando juntos. O som é ensurdecedor. Mesmo eu, que mal vou a jogos, em pouco tempo já estou levantando, gritando e xingando alguém que eu nunca havia visto antes. Nessas condições não é absurdo pensar no transe que Smith sentia nos Dois Minutos do Ódio no livro de George Orwell, é praticamente impossível não se deixar levar pelo clima do lugar. Até certo ponto é assustador. Nem sei como os engenheiros conseguem calcular a resistência que um ginásio deve ter, não sei se há fórmula de física que calcule a energia que emana das pessoas em uníssono pulando e berrando pelo seu time.

É impressionante ver todo mundo extremamente sincronizado apoiando e vaiando. O que torna um pouco difícil acompanhar tudo isso para quem não está acostumado. O basquete é um jogo tão bem pensado para a ser um show, não é a toa que é o esporte dos EUA, suas regras são feitas para o jogo ser dinâmico, onde não há nem um minuto de folga para se pensar, tensão 100% do tempo. Enquanto estou empolgado gritando porque meu time fez uma cesta, o resto da torcida já esta vaiando o ataque do adversário, é fantástico assistir a isso num ginásio. No intervalo dessa loucura percebo o quanto a vida é ironicamente cruel, na hora do intervalo sorteiam um celular, ganhou um menino loirinho, sentado com a família e amigos bem na primeira fileira, atrás do banco da equipe de Franca, um ótimo lugar. Ele vai e busca o prêmio, no meio de milhares de pessoas, numa empolgação explosiva. Ele volta para o seu lugar, e pelo que observei foi o numero da cadeira dele mesmo que foi sorteada, ele mesmo que ganhou o celular e não foi apenas buscar o prêmio para alguém. E no meio de abraços de amigos e da família ele fica até desnorteado pela emoção do negócio. Vendo isso pensei no que deve ser isso pra uma criança, ele nunca mais vai se esquecer disso. Virei para um amigo e falei disso, e nós dois pensamos o quanto deve ser legal ter essa experiência, o quanto deve ser bacana ter isso pelo resto da vida. Passados alguns minutos, um menino gordinho, bem a nossa frente subindo a escada cai com dois copos de refrigerante na mão, molhando-se todo e molhando o lugar de alguns torcedores. Como é irônico isso, parece coisa armada de filme. O pobre coitado que já deve ser alvo de piadas na sua turma pelo seu tipo físico, justo no jogo do ano, sofre esse tipo de peça da vida. Deve ser um belo golpe na auto-estima dessa pessoa, lembrar eternamente daquele jogo não pelo celular ganhado, mas pelo tombo monumental na frente de centenas de pessoas. E o estranho que quando acontece algo desse tipo, temos a impressão de que cada pessoa naquele lugar esta rindo de nós. Como são cruéis essas coisas. O cara que teve seu lugar molhado sai chutando o ar, furioso, e o garoto senta sobre um coral de risadas e de olhares fechados de quem perdeu o lugar.

O jogo volta, num ritmo tão louco que eu já aplaudo, xingo, grito, vaio, vibro quando um dos jogadores adversário cai no meio da quadra, uma loucura. Nem percebo as condições em que estávamos, estava tudo tão divertido que me esqueci do tempo e do placar, estava numa paz interior, como se o melhor de tudo ali não fosse ganhar ou perder, mas tudo aquilo que estava acontecendo. Parecia que cada cesta era a cesta do campeonato. Quando me lembro de olhar o placar, vejo que faltam alguns segundos e o jogo praticamente perdido. Cada cesta era verdadeiramente a do campeonato. No último segundo Franca empata. Nunca vi coisa igual, era como se o goleiro de um time driblasse o time adversário inteiro e fizesse um gol de ouro na final do Campeonato Mundial Interclubes em Tóquio. Isso é a glória do engenheiro que fez o ginásio, agora sabemos que ele suporta qualquer coisa. A essa altura, já não existe mais pessoas ali, é todo mundo um só. Percebo uma criança sentada bem distante, numa cadeira de rodas, com alguma má formação séria, nunca deve ter saído da cadeira. Ali ela batia as mãos e gritava como todo mundo, imagino que pra essas pessoas deve ser difícil fazer alguma coisa junto com alguém sem que haja alguma barreira. Ali não havia. Todo mundo estava ligado, em transe, um som ensurdecedor de vozes gritando como se daquilo a vida de cada um ali dependesse. Uma bola do time adversário é arremessada da linha dos três, se ela cair, tudo esta perdido. Nesse caminho que não deve ter durado nem dois segundos, o ginásio ficou num silêncio absoluto, uma eternidade de tempo se passa até que bola bate no aro e não cai, vamos para a prorrogação.

O ginásio treme. Desligo-me do transe no intervalo para a prorrogação, vejo que as meninas esqueceram-se dos seus paqueras e agora vibram a cada lance, o refrigerante já secou e outras pessoas estão no lugar vibrando também. O menino loiro pula pendurado na grade, e o garoto gordinho esta de pé gritando pelo time. O menino na cadeira de rodas continua a acompanhar as palmas. O cara que perdeu o lugar, pelo que parece, já nem pisca há alguns minutos. Nosso time perde na prorrogação. Mas no final, os aplausos de uma torcida realmente apaixonada pelo time que lutou como pode, abafavam o grito de “é campeão” do adversário.


-Dudu-

15.8.08

Relacionamentos...

Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:

- 'Ah, terminei o namoro... '
- 'Nossa, quanto tempo?'
- 'Cinco anos... Mas não deu certo... Acabou'
- É não deu...?

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.

E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.

Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.

Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?

E não temos esta coisa completa.

Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama.

Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.

Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.

Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.

Tudo nós não temos.

Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.

Pele é um bicho traiçoeiro.

Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.

E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...

Acho que o beijo é importante... E se o beijo bate... Se joga... Senão bate... Mais um Martini, por favor... E vá dar uma volta.

Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.

O outro tem o direito de não te querer.

Não lute, não ligue, não dê pití.

Se a pessoa ta com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não.

Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.

O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.

Nada de drama.

Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro, recessão de família?

O legal é alguém que está com você por você.

E vice versa.

Não fique com alguém por dó também.

Ou por medo da solidão.

Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.

E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.

Tem gente que pula de um romance para o outro.

Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

Gostar dói.

Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração.

Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo.

E nem sempre as coisas saem como você quer...

A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.

Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta.

Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.

Na vida e no amor, não temos garantias.

E nem todo sexo bom é para namorar.

Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.

Nem todo beijo é para romancear.

Nem todo sexo bom é para descartar. Ou se apaixonar. Ou se culpar.

Enfim... Quem disse que ser adulto é fácil?

-Arnaldo Jabor-

21.7.08

A Frase.

A FRASE

O melhor texto de publicidade que eu já vi era assim: uma foto colorida de uma garrafa de uísque Chivas Regal e, embaixo uma única frase: “O Chivas Regal dos uísques”.
O anuncio é americano. Em algum anuário de propaganda, desses que a gente folheia nas agências de em busca de idéias originais na esperança que o cliente não tenha o mesmo anuário, deve aparecer o nome do autor no texto. No dia que eu descobrir quem é, mando um telegrama com uma única palavra. Um palavrão. Que tanto pode expressar surpresa quanto admiração, inveja, submissão ou raiva. No meu caso, significará tudo ao mesmo tempo. Palavrão PT segue carta explosiva PT Abraços etc.
Duvido que o autor da frase receba o telegrama. O cara que escreveu um anúncio assim não recebe mais telegramas. Não atende a porta. Não se mexe da cadeira. Não lê mais nada, não vê mais televisão, não vai ao cinema e fala somente o indispensável. Passa o dia sentado, de pernas cruzadas, com um olhar perdido. Alimenta-se de coisas vagamente brancas e bebe champanhe brut em copos de tulipa. Com um leve sorriso nos cantos da boca.
Foi o sorriso que finalmente levou sua mulher a pedir o divórcio. Ela agüentou tudo. O silêncio, a indiferença, as pernas cruzadas, tudo. Mas o sorriso foi demais.
“Bob (digamos que o nome dele seja Bob), você não vai mais trabalhar?”.
Sorriso.
“Nunca mais, Bob? Há uma semana que você não sai dessa cadeira”.
Sorriso.
“Bob, o Bill disse que seu lugar na agência está garantido, quando você quiser voltar. Mas eles não podem continuar pagando se você não voltar.”
Sorriso.
“As crianças precisam de sapatos novos. O aluguel do apartamento está atrasado. Meu analista também. Nosso saldo no banco se foi com a última caixa de champanhe que você mandou buscar”.
Sorriso.
“Sabe o que estão dizendo na agência, Bob? Que seu texto do Chivas foi pura sorte. Que foi genial, mas você não faz dois iguais àquele. Você precisa ir lá mostrar para eles, Bob. Faça alguma coisa, Bob!”
Bob fez alguma coisa, descruzou as pernas e cruzou outra vez.
Sorrindo.
A mulher tratou do divórcio sozinha. Na hora das despedidas, ele inclinou-se levemente na poltrona para beijar as crianças mas não disse uma palavra. Continua sentado lá até hoje.
Levanta-se para ir ao banheiro, trocar de roupa e telefonar para fornecedores de enlatados e champanhe. Os que ainda lhe dão crédito. O resto do tempo fica sentado, as pernas cruzadas, o olhar perdido. E o sorriso.
Uma faxineira vem uma vez por semana, limpa o apartamento (há pouco para limpar, ele não toca em nada) e vai embora. Abanando a cabeça. Pobre o Sr. Bob. Um moço tão bom.
Amigos preocupam-se com ele. A agência lhe faz ofertas astronômicas para voltar. Ele responde a todos com monossílabos e vagos gestos com o copo de tulipa. E todos vão embora, abanando a cabeça.
Contam que a mesma coisa aconteceu com o primeiro homem a escalar o Everest. Para começar, quando ele chegou no topo, no cume da montanha mais alta do Terra, ele tirou um banquinho da sua mochila, colocou o banquinho exatamente no pico do Everest e subiu no banquinho! O guia nativo que o acompanhava não entendeu nada. Se entendesse, estaria entendendo o homem branco e toda história do Ocidente. De volta à civilização o homem que conquistou o Everest passou meses sem falar com ninguém e sem olhar fixamente pra nada. Se tinha mulher e filhos, esqueceu. E tinha um leve sorriso nos cantos da boca.
Você precisa entender que quem escreve para a publicidade está sempre atrás da frase definitiva. Não importa se for sobre uísque de luxo ou uma liquidação de varejo, importa é a frase. Ela precisa dizer tudo o que há pra dizer sobre qualquer coisa, num decassílabo ou menos. Tão perfeita que nada pode segui-la, salvo o silêncio e a reclusão. Você atingiu seu próprio pico.
Bob tem duas coisas a fazer, depois de passada a euforia das alturas. Uma é voltar para a agência, mas com outro status, Por um salário mais alto, apenas perambulará pelas salas para ser apontado a novatos e visitantes como o autor da frase, aquela.
“Você quer dizer.... A frase?”
“A frase”
Outra é começar de novo em outro ramo. Com uma banca de chuchu na feira, por exemplo. Ele não precisa conquistar mais nada, é o único homem realizado do século.
Mas por enquanto Bob só olha para as paredes. De vez em quando, diz baixinho:
“O Chivas Regal dos uísques...”
E aí atira a cabeça pra trás e dá uma gargalhada. Depois descruza e recruza as pernas e bebe mais um gole de champanhe.

- Verissimo - (Verissimo mesmo, eu tenho o livro e datilografei :P )

O Sapo Não Lava o Pé - Estudo Filosófico.

Olavo de Carvalho: O sapo não lava o pé. Não lava porque não quer. Ele mora lá na lagoa, não lava o pé porque não quer e ainda culpa o sistema, quando a culpa é da PREGUIÇA. Este tipo de atitude é que infesta o Brasil e o Mundo, um tipo de atitude oriundo de uma complexa conspiração moscovita contra a livre-iniciativa e os valores humanos da educação e da higiene!

Marx: A lavagem do pé, enquanto atividade vital do anfíbio, encontra-se alterada no panorama capitalista. O sapo, obviamente um proletário, tendo que vender sua força de trabalho para um sistema de produção baseado na detenção da propriedade privada pelas classes dominantes, gasta em atividade produtiva o tempo que deveria ter para si próprio. Em conseqüência, a miséria domina os campos, e o sapo não tem acesso à própria lagoa, que em tempos imemoriais fazia parte do sistema comum de produção.

Engels: isso mesmo.

Foucault: Em primeiro lugar, creio que deveríamos começar a análise do poder a partir de suas extremidades menos visíveis, a partir dos discursos médicos de saúde, por exemplo. Por que deveria o sapo lavar o pé? Se analisarmos os hábitos higiênicos e sanitários da Europa no século XII, veremos que os sapos possuíam uma menor preocupação em relação à higiene do pé - bem como de outras áreas do corpo. Somente com a preocupação burguesa em relação às disciplinas - domesticação do corpo do indivíduo, sem a qual o sistema capitalista jamais seria possível - é que surge a preocupação com a lavagem do pé. Portanto, temos o discurso da lavagem do pé como sinal sintomático da sociedade disciplinar.

Weber: A conduta do sapo só poderá ser compreendida em termos de ação social racional orientada por valores. A crescente racionalização e o desencantamento do mundo provocaram, no pensamento ocidental, uma preocupação excessiva na orientação racional com relação a fins. Eis que, portanto, parece absurdo à maior parte das pessoas o sapo não lavar o pé. Entretanto, é fundamental que seja compreendido que, se o sapo não lava o pé, é porque tal atitude encontra-se perfeitamente coerente com seu sistema valorativo - a vida na lagoa.

Nietzsche: Um espírito astucioso e camuflado, um gosto anfíbio pela dissimulação - herança de povos mediterrâneos, certamente - uma incisividade de espírito ainda não encontrada nas mais ermas redondezas de quaisquer lagoas do mundo dito civilizado. Um animal que, livrando-se de qualquer metafísica, e que, aprimorando seu instinto de realidade, com a dolcezza audaciosa já perdida pelo europeu moderno, nega o ato supremo, o ato cuja negação configura a mais nítida - e difícil - fronteira entre o Sapo e aquele que está por vir, o Além- do-Sapo: a lavagem do pé.

Filmer: Podemos ver que, desde a época de Adão, os sapos têm lavado os pés. Aliás, os seres, em geral, têm lavado os pés à beira da lagoa. Sendo o sapo um descendente do sapo ancestral, é legitimo, obrigatório e salutar que ele lave seus pés todos os dias à beira do lago ou lagoa. Caso contrário, estará incorrendo duplamente em pecado e infração.

Locke: Em primeiro lugar, faz-se mister refutar a tese de Filmer sobre a lavagem bíblica dos pés. Se fosse assim, eu próprio seria obrigado a lavar meus pés na lagoa, o que, sustento, não é o caso. Cada súdito contrata com o Soberano para proteger sua propriedade, e entendo contido nesse ideal o conceito de liberdade. Se o sapo não quer lavar o pé, o Soberano não pode obrigá-lo, tampouco recriminá-lo pelo chulé. E, ainda afirmo: caso o Soberano queira, incorrendo em erro, obrigá-lo, o sapo possuirá legítimo direito de resistência contra esta reconhecida injustiça e opressão.

Kant: O sapo age moralmente, pois, ao deixar de lavar seu pé, nada faz além de que atuar segundo sua lei moral universal apriorística, que prescreve atitudes consoantes com o que o sujeito cognoscente possa querer que se torne uma ação universal.

Nota de Freud: Kant jamais lavou seus pés.

Freud: Um superego exacerbado pode ser a causa da falta de higiene do sapo. Quando analisava o caso de Dora, há vinte anos, pude perceber alguns dos traços deste problema. De fato, em meus numerosos estudos posteriores, pude constatar que a aversão pela limpeza, do mesmo modo que a obsessão por ela, podem constituir-se num desejo de autopunição. A causa disso encontra-se, sem dúvida, na construção do superego a partir das figuras perdidas dos pais, que antes representavam a fonte de todo conteúdo moral do girino.

Jung: O mito do sapo do deserto, presente no imaginário semita, vem a calhar para a compreensão do fenômeno. O inconsciente coletivo do sapo, em outras épocas desenvolvido, guardou em sua composição mais íntima a idéia da seca, da privação, da necessidade. Por isso, mesmo quando colocado frente a uma lagoa, em época de abundância, o sapo não lava o pé.

Hegel: podemos observar na lavagem do pé a manifestação da Dialética. Observando a História, constatamos uma evolução gradativa da ignorância absoluta do sapo - em relação à higiene - para uma preocupação maior em relação a esta. Ao longo da evolução do Espírito da História, vemos os sapos se aproximando cada vez mais das lagoas, cada vez mais comprando esponjas e sabões. O que falta agora é, tão somente, lavar o pé, coisa que, quando concluída, representará o fim da História e o ápice do progresso.

Comte: O sapo deve lavar o pé, posto que a higiene é imprescindível. A lavagem do pé deve ser submetida a procedimentos científicos universal e atemporalmente válidos. Só assim poder-se-á obter um conhecimento verdadeiro a respeito.

Schopenhauer: O sapo cujo pé vejo lavar é nada mais que uma representação, um fenômeno, oriundo da ilusão fundamental que é o meu princípio de razão. A Vontade, que o velho e grande filósofo de Königsberg chamou de Coisa-em si, e que Platão localizava no mundo das idéias, essa força cega que está por trás de qualquer fenômeno, jamais poderá ser capturada por nós, seres individuados, através do princípio da razão, conforme já demonstrado por mim em uma série de trabalhos, entre os quais o que considero o maior livro de filosofia já escrito no passado, no presente e no futuro: O mundo como vontade e representação.

Aristóteles. O [sapo] lava de acordo com sua natureza! Se imitasse, estaria fazendo arte. Como [a arte] é digna somente do homem, é forçoso reconhecer que o sapo lava segundo sua natureza de sapo, passando da potência ao ato. O sapo que não lava o pé é o ser que não consegue realizar [essa] transição da potência ao ato.

Platão: O sapo que vemos é nada além da corruptela do sapo ideal, que a alma conheceu antes da Queda. O sapo ideal lava seus pés eternos com esponjas imutáveis, num mundo sem movimento. O sapo imperfeito, porém, jamais lava os pés.

Diógenes de Laércio: Foda-se o sapo, eu só quero tomar meu sol.

Parmênides de Eléia: Como poderia o sapo lavar os pés, ó deuses, se o movimento não existe?

Heráclito de Éfeso: Quando o sapo lava o pé, nem ele nem o pé são mais os mesmos, pois ambos se modificam na lavagem, devido à impermanência das coisas.

Epicuro: O sapo deve alcançar o prazer, que é o Bem supremo, mas sem excessos. Que lave ou não o pé, decida-se de acordo com a circunstância. O vital é que mantenha a serenidade de espírito e fuja da dor.

Estóicos: O sapo deve lavar seu pé segundo as estações do ano. No inverno, mantenha-o sujo, que é de acordo com a natureza. No verão, lave-o delicadamente à beira das fontes, mas sem exageros. E que pare de comer tantas moscas, a comida só serve para o sustento do corpo.

Descartes: nada distingo na lavagem do pé senão figura, movimento e extensão. O sapo é nada mais que um autômato, um mecanismo. Deve lavar seus pés para promover a autoconservação, como um relógio precisa de corda.

Bobbio: existem três tipos de teoria sobre o sapo não lavar o pé. O primeiro tipo aceita a não-lavagem do pé como natural, nada existindo a reprovar nesse ato. O segundo tipo acredita que ela seja moral ou axiologicamente errada. A terceira espécie limita-se a descrever o fenômeno, procurando uma certa neutralidade.

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Between the Bars

As vezes me canso daqui, de suas limitações, da sua falta de opção, de ir sempre aos mesmos bares, tudo sempre do mesmo jeito. Gostaria de ir a todos os bares do mundo, provar de todas as cervejas, todas as vodkas. Sentar-me onde grandes nomes da cultura sentaram. Ter o mesmo ponto de vista que algum grande nome da música teve ao compor alguma música que me acompanha até hoje. Ouvir outras coisas, sentir, ver. Ir ao grande bar da moda. Ver outras pessoas. Mas do que vale tudo isso, se o que vale numa roda de bar, é justamente a roda de pessoas? Sempre disse que o que importa não é o bar, são as pessoas que estão comigo. Por que procuro a satisfação além, se ela está sempre aqui, do meu lado, sempre quando eu quero? No fim esses outros bares tão especiais, se tornaram especiais porque pessoas especiais viveram momentos especiais. Mas sentar num bar desses, sem uma mesa recheada de pessoas que amamos, faz dele só um bar, com mesas e cadeiras diferentes, uma decoração, um estilo. Nada muito especial. Um bar cheio, mas vazio na alma.

- Dudu -

16.7.08

Sobre lê-se-onar

Sala de aula. Grande e representativo ponto de interrogação no quadro.
Algumas tentativas lúdicas de explicar como sinalizar uma questão.
Não tão óbvio pros pequenos, de pouco mais de três verões.

Pequeno e intrigado, Pedro pergunta a razão de eu ter desenhado um grande S dançando, em cima de uma bola.

É, Pedro.

Então.

Uma pergunta, assim como essa que você fez, agora.

Mas Pedro, eu queria te dizer que esse S fugido, vai ser você, um dia. Muitos dias.

Queria te contar que ando cheia desses Ss por dentro, eles são uma dança só, entre saltos, que eu mando parar, mas são surdos, e além disso nem um pouco coreografados, sabe Pedro, tem sido péssimo.

Mas também não é tão ruim, desculpa. Não vá se assustar, disso tudo também já saiu muita coisa boa, dessas interrogações nasceram invenções, revoluções, mudanças, e quem sabe um dia pra mim elas sirvam pra mais do que escrever um texto, um texto, um texto.

Queria te contar das ciladas que me enfiei por causa delas, que ontem a noite foi dura e que eu acordei mais ainda, e que elas se multiplicam, lembra daquele filme dos Gremlins? Com certeza não, mas enfim, resumindo, eram bichinhos que quando eram mortos, não morriam, se multiplicavam.

É assim que funcionam, essas bolas que pulam, pulam, pulam, vão pular em você como quando a gente afoga em piscina de bolinas (isso você conhece), mas nesse caso as bolinhas ficam pretas e se mexem sozinhas e crescem e sufocam e pulam, infernalmente pulando.

Queria te dizer da tristeza de te mostrá-las assim tão cedo, mais cedo ou mais tarde você conheceria, mas não queria ser eu, sabe, esse fardo, só que me interessei muito por essa sua nova visão interrogativa, queria mostrar pro mundo, te levar aos congressos de doutores em letras, mostrar pra esses seres que de livre docência tem só o título, pra eventos internacionais sobre qualquer coisa assim e assado.

Dizer que tudo, e o mundo silenciaria, Pedro, você diria que tudo isso não passa de um S desatinado, que cansou do plural, viu o ponto, também não muito feliz sendo final, persuadiu-o, resolveram ser curva e bola, só.

Dois dois, nenhum: nem plural, nem final.

- Gabi Romeiro -

14.7.08

Ãh musga éh...

Como diria Nietzche "Depois do silêncio, a música é o que se aproxima mais de expressar o inexpressável". Diria que a música consegue transformar o que é abstrato e sem explicação, em uma representação física. Por comprimentos de ondas e deslocamento de ar, você consegue mergulhar no que músico queria expressar. Ódio, prazer, amor, saudade, fúria, etc. Tudo que palavras não conseguem explicar nem em um conjunto de milhares, a música com apenas 7 notas, e o silêncio entre elas, consegue, e com maestria. E não só explicar, te faz sentir e se emocionar como o artista. A batida da música guia os batimentos do seu coração, num instante seu corpo acompanha a música e o que antes era a expressão do sentimento, agora é o sentimento.

- Dudu -